Ciclo infernal


O campeonato português aproxima-se do fim e há muito por decidir, dentro e fora de campo. A época 2016/17 fica marcada, infelizmente, por uma tensão crescente e por um clima de guerrilha que mancha os mais elementares valores do desporto.

À semelhança do que acontece no mundo atual, teimamos em não aprender com os erros, em ignorar a história e as conquistas civilizacionais, o que inevitavelmente conduz a um mau resultado.

O ambiente de "guerra fria" e a ameaça de conflitos bélicos por todo o mundo, alimentada pelo populismo e demagogia, teve sempre na cultura e no desporto contrapoderes, em nome da pacificação.

Pois então, se o desporto é igualdade de armas, respeito pelo adversário, saber perder como ganhar, e se ao longo da história milhares de desportistas por todo o mundo souberam honrar-nos com o seu exemplo, incluindo no nosso futebol, por que razão não conseguimos elevar o nível, manter esses valores nos tempos que correm? Onde estão as nossas referências e que legado nos deixaram?

Tive oportunidade de referir por diversas vezes ao longo da época que continuamos a desviar o debate das questões mais importantes para o futuro do futebol português, e em especial, para os seus protagonistas. Valerá realmente a pena?

Destaco, em particular, a violência no desporto, que deve ser repudiada a uma só voz. Não haverá verdadeiros vencedores se continuarmos a alimentar este estado de coisas. O mundo em que hoje vivemos e, infelizmente o futebol de que tanto gostamos, está em perigo de implosão.

Se olharmos ao que atualmente se discute no plano internacional, diria que precisamos de criar uma "linha vermelha" inultrapassável no desporto. A transparência e a boa governação têm de ser práticas obrigatórias, as sanções aplicáveis pela má gestão desportiva, exemplares.

Além disso, recuperar referências nos campos, balneários e tribunas! Lanço, em especial, o desafio aos jogadores profissionais de hoje. Olhem para além das quatro linhas e vejam o que está a acontecer em redor. Ninguém tem maior poder transformador. Estou plenamente convencido de que o desportista pode mudar o paradigma atual do desporto, qualificando-se, conectando-se com o mundo que o rodeia, querendo fazer a diferença. É preciso inverter o ciclo infernal em que nos encontramos.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (25 de abril de 2017)

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