A vida está primeiro


A morte súbita cardíaca é a principal causa de morte em atletas durante a prática desportiva. Por esse motivo, o Sindicato dos Jogadores apresentou no dia 26 de maio o Projeto João Lucas, uma iniciativa que pretende, por um lado, homenagear o ex-jogador de futebol e antigo delegado do SJPF que faleceu a 26 de maio de 2015 vítima de morte súbita e, por outro, promover as ferramentas necessárias que previnam o aparecimento de doenças cardíacas em atletas de alta competição.

A situação pela qual passou o João Lucas remete-nos para a necessidade urgente de se redefinirem os critérios de inclusão de alguns exames no programa de rastreio pré-desportivo, nomeadamente o eletrocardiograma. O exercício físico regular é visto como uma das estratégias de sucesso para a prevenção de doenças cardiovasculares. No entanto, o risco de morte parece aumentar 2-4,5 vezes durante a prática de atividade física de alta intensidade com regularidade.

Em Portugal, são ainda muitos os desafios que existem para que se possa efetuar uma resposta institucional, médica e desportiva adequada. É por isso que entendemos criar uma bolsa de investigação, com o nome de João Lucas, destinada a uma ou mais instituições hospitalares, que será entregue todos os anos no dia 26 de maio, data do falecimento do ex-jogador e delegado do Sindicato.

Ao associar o João Lucas às doenças cardíacas, queremos chamar a atenção para os problemas específicos da atividade de futebolista profissional, de curta duração e desgaste rápido. É inaceitável que as questões comerciais e os resultados se sobreponham às questões como a saúde e o bem-estar dos jogadores. Muitos dirigentes e treinadores não olham a limites para alcançar os resultados. E os próprios jogadores não têm consciência dos seus limites. Temos de combater este paradigma.

Este projeto vai para além da formação e da investigação. Pretendemos convocar os agentes desportivos para um novo padrão de comportamento relativamente à saúde dos jogadores. Que todos os agentes digam presente e evitem que casos como o do João Lucas voltem a acontecer. A vida está primeiro!

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (30 de maio de 2017)

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