As loucuras do mercado


Este verão fica indiscutivelmente marcado pela transferência multimilionária de Neymar para o Paris Saint-Germain. Longas discussões têm sido mantidas sobre os limites do sistema e a necessidade de salvaguardar os interesses dos clubes, ‘desarmados’ por questões financeiras e, assim, privados das suas estrelas.

Sobre Neymar apenas um comentário na ótica do jogador. Exerceu a sua liberdade trabalho, seja pela melhoria das condições contratuais, por razões desportivas ou quaisquer outras que estejam na base da decisão, funcionou o atual sistema de transferências.

É justamente sobre o atual sistema de transferências da FIFA que deve recair a análise. Em 2015, a FIFPro apresentou uma queixa na Comissão Europeia exigindo o escrutínio deste sistema. Fê-lo por convicção dos malefícios para os direitos do jogador enquanto trabalhador no espaço europeu, mas também das assimetrias geradas entre clubes ‘ricos’ e ‘pobres’ e inerentes prejuízos para a competição.

Os milionários prémios de transferência e os negócios que gravitam à volta das famosas transferências geram uma riqueza que não é redistribuída no desenvolvimento da modalidade e na garantia da competitividade entre os clubes.

O futebol ficou refém dos milhões que gera e infelizmente tem corporizado interesses alheios ao desenvolvimento da própria modalidade.

Apesar da ‘mercantilização’ do sistema, há espaço para mudanças. O desporto, enquanto setor de atividade, tem de assegurar a criação de condições laborais dignas para todos os praticantes, garantir a igualdade entre os competidores e promover a verdade desportiva. No futebol o caminho não deve passar por criar novos entraves à mobilidade dos atletas.

Por último, os meus parabéns aos atletas portugueses presentes nos mundiais de atletismo e, em especial, aos medalhados Nelson Évora e Inês Henriques.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (15 de agosto de 2017)

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