Reforma e confiança
A FIFPro e a FIFA alcançaram um acordo histórico para a reforma do atual sistema de transferências. Não posso deixar de manifestar a minha satisfação por este entendimento, enquanto Presidente do Sindicato dos Jogadores e membro da Divisão Europa da FIFPro, que desempenhou um papel fundamental ao longo da negociação.
Destaco, em particular, num contexto de reformas que a FIFA e a UEFA iniciaram, o clima de diálogo e confiança. Sobre o conteúdo deste acordo, que será implementado em diferentes fases, destaco o reforço das garantias laborais do jogador nas situações de incumprimento salarial ou privação das condições de trabalho em igualdade com os restantes colegas de equipa.
A redução do "enclausuramento" contratual em situações deste tipo reequilibra forças entre jogadores e clubes e agiliza a resolução de disputas, contribuindo para um futebol mais justo.
Caminhamos, para uma afirmação do jogador de futebol enquanto trabalhador, que não pode ser abalada nem pelas especificidades do desporto, nem pelas exigências da competição.
O diálogo social continuará a ser efetivado em torno de questões laborais, de justiça social e direitos humanos, para a fixação de um standard mínimo de proteção suscetível de aplicação a nível global.
Quero, ainda, retirar ilações do acordo para a realidade portuguesa. Este foi o acordo que, enquanto representantes dos jogadores, pretendíamos?
Certamente que não. Mas um acordo é isto, um conjunto de cedências de todas as partes para um bem maior. Neste caso, o futebol.
Talvez em Portugal possamos aprender que até os interesses mais antagónicos podem encontrar pontos de conversão, em benefício do objetivo comum que é o desenvolvimento do futebol e a confiança por parte de todos no sistema desportivo.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (7 de novembro de 2017)