O futebol por quem o observa


O fim-de-semana desportivo ficou marcado por grandes jogos de futebol, entre os quais um clássico, em que o FC Porto saiu vitorioso, e um dérbi de Lisboa onde o Sporting CP levou a melhor.

Numa liga que apresenta problemas relacionados com a competitividade e sustentabilidade dos competidores, com gritantes contrastes, observar esta disputa pelo título, bem como pela manutenção e lugares europeus, faz-me valorizar ainda mais o trabalho que tem sido desenvolvido pelas equipas dentro das quatro linhas. Parabéns, em especial, aos jogadores, que num ambiente muito difícil têm dado provas de profissionalismo e dedicação.

Pela negativa registo, contudo, os casos de violência protagonizados por adeptos. O desporto é, para o bem e para o mal, o último reduto da crise de valores que na sociedade se regista em cada momento, pelo que não tenho ilusões quanto à complexidade e dificuldades das organizações desportivas em reagir face aos fenómenos associados à violência, mesmo num quadro normativo que permita, eficazmente, sancionar e atuar como facto dissuasor das ações violentas concertadas por grupos organizados, para os quais a criminalidade é um imperativo e a envolvência do futebol um mero pretexto.

Tive oportunidade de reforçar na conferência parlamentar organizada sobre a temática, que vivemos num tempo em que as declarações de intenções, individualizadas, parecem sobrepor-se a qualquer estratégia, concertada, em torno dos valores socioculturalmente considerados intransponíveis. Não sendo o desporto imune à evolução da sociedade, a violência e a intolerância exprimido em redor dos eventos desportivos devem preocupar os agentes do desporto, e direcionar uma voz comum. Antes que seja tarde de mais!

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (17 de abril de 2018)

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