'Pedregulhos'


Esta semana não posso deixar de destacar, pela negativa, os acontecimentos que antecederam aquela que devia ter sido uma celebração do que melhor tem o futebol argentino, o duelo histórico entre River Plate e Boca Juniors.

As imagens que nos chegam do outro lado do oceano são da mais básica violência, traduzida no lançamento de pedras e engenhos artesanais contra o autocarro da equipa visitante, o que podia ter gerado um desfecho trágico.

São, também, imagens de profunda desorganização. Não quero acreditar que a tutela e as autoridades policiais não estivessem cientes dos riscos e da necessidade de um cordão de segurança reforçado para acompanhar o Boca até ao estádio. Depois fica a imagem de anarquia e desordem, espelhada nos assaltados à vista da polícia e devassa do património.

Fica o discurso franco e sem rodeios de Carlos Tévez, que deixou uma mensagem emocionada e que revela bem o sentimento de impotência dos jogadores.

Se fizermos um paralelismo com o que sucedeu no mesmo fim-de-semana em França, ressalvadas as devidas diferenças quanto à motivação dos atos de vandalismo e violência, diria que a sociedade de hoje vive numa complexa crise de valores, permeável a informação falsa e pelo discurso populista e, sobretudo, marcada pela falta de identificação com quem governa.

Einstein, consciente do caminho da humanidade, dizia "não sei como será a terceira guerra mundial, mas sei como será a quarta: com pedras e paus." Infelizmente, os ‘pedregulhos’ estão a tomar conta da sociedade e a destruir o que de melhor nela existe. Seja no desporto, ou na sociedade em geral, não podemos aceitar este desfecho, impondo-se que quem tem responsabilidades as assuma, tenha coragem, seja ativo, não pactue com o medo e violência.

Nota final para dar os parabéns ao jornal Record pelos seus 69 anos, um jornal sexy, que continua a marcar a atualidade desportiva.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (27 de novembro de 2018)

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