O “caso” Rúben Amorim


Esta semana não posso deixar de me pronunciar sobre o "caso Rúben Amorim", primeiro pelo respeito que me merece e, segundo, pelo que a decisão do Conselho de Disciplina significa para o futuro da profissão de treinador em Portugal.

Lamento que o futebol português não tenha sabido neste caso, como noutros, valorizar a experiência profissional dos jogadores e esteja a ser dificultado o acesso à profissão, através de um modelo de formação rígido.

A formação de treinadores tem de atender, a meu ver, ao investimento do desportista profissional na preparação do pós-carreira. Infelizmente, a cultura desportiva instalada nunca fomentou este investimento, negando condições aos jogadores para conciliar a atividade desportiva com a formação. Vir exigir aos ex-atletas o que o Programa Nacional de Formação de Treinadores (PNFT) exige, não é sério nem justo.

Este paradigma, o de preparar a transição durante a carreira, é recente e, infelizmente, ainda são poucos os que o fazem. Sem desculpar os jogadores que não o fazem, nem sequer valorizar a experiência profissional adquirida é inaceitável.

Acresce que para concluir o curso de treinador é necessária uma década, tempo que nem o curso de Direito ou de medicina exigem.

O PNFT não contempla as vicissitudes do futebol, modalidade que mais tem destacado a profissão no mundo e ao contrário do que é desejável não facilita o acesso ao mercado de trabalho, condição essencial a quem se retira da prática desportiva.

A lei está na Assembleia da República e contempla propostas do Sindicato, nomeadamente a introdução do conceito de "carreiras duais", a valorização da experiência adquirida e implementação de mecanismos de aceleração e compatibilização curricular com a prática desportiva de elite.

Em conclusão, este não é um problema do Rúben Amorim, é um problema do país desportivo, que não tem a capacidade de dar condições e garantias aos seus melhores ativos.

No que depender do Sindicato, tudo faremos para mobilizar quem tem responsabilidades na matéria para a alteração do paradigma de formação de treinadores em Portugal, exigindo, nomeadamente, que o futebol e os seus agentes sejam respeitados.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (22 de janeiro de 2019)

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