Do teu para o nosso desabafo


O início de semana ficou marcado pelo desabafo de Vítor Bruno nas redes sociais, um jogador que além de referência no balneário do Feirense me merece a maior consideração pela dedicação, profissionalismo e espírito com que sempre honrou a classe que representa.

Daí que assuma o desabafo do Vítor Bruno como o desabafo dos jogadores, capitães ou líderes de balneário, que em especial nas últimas duas épocas têm dado a cara e alertado para os sinais preocupantes de desvalorização do futebol e da atividade dos jogadores em Portugal.

Hoje não podemos ser ingénuos ao ponto de achar que existe interesse em promover um futebol positivo. Hoje vendem melhor as guerrilhas entre clubes, as análises às avaliações feitas pelos que estão por detrás do VAR, colocando em causa a utilização das novas tecnologias.

E no fim do mediatismo, a intriga sobre a conduta, o empenho ou dedicação das únicas pessoas neste setor que escolheram fazer do que mais gostam profissão. Elas não mudaram, infelizmente o futebol mudou, para pior.

Defendo o Vítor Bruno porque no seu desabafo revejo, em parte, a discussão que os capitães levaram às organizações desportivas e governo no final da época passada. É demasiado fácil acusar, demasiado simples apontar o dedo, demasiado tentador desculpabilizar todos os intervenientes até punir o jogador.

Infelizmente, quando ligamos a televisão não acordamos do pesadelo. Sem recorrer ao clichê de que continuamos a "matar a galinha dos ovos de ouro", não deixo de mostrar total compreensão com o estado de saturação a que os jogadores chegaram em Portugal, desprovidos de estabilidade contratual, com salários médios na cauda da Europa, olhados com indiferença e cada vez mais objeto de especulação.

Quereremos um espetáculo desportivo sem eles?

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (9 de abril de 2019)

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