Os totalitarismos do futebol


Ao escrever este artigo retenho-me na reflexão de Miguel Poiares Maduro sobre o atual modelo de gestão de FIFA e UEFA, caracterizando uma estrutura de "fidelização" e "seguidismo" acrítico por parte dos diferentes poderes que compõem qualquer organização democrática.

A concentração de poder e o enfraquecimento dos órgãos de controlo e fiscalização, estatutária e eticamente independentes, deixam-nos não poucas vezes no meio de um colossal silêncio e apatia perante decisões que não refletem, no mínimo, uma tentativa de concertar os interesses das partes envolvidas no fenómeno desportivo, em benefício do desenvolvimento da modalidade.

Este fim-de-semana assisti na Assembleia-Geral (AG) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a um momento inédito, um regulamento disciplinar para uma competição profissional aprovado com votos contra de organizações representativas de jogadores, treinadores e árbitros, seguida de uma apática validação por parte dos delegados representantes do futebol não profissional.

Para que fique claro, em causa não está a revogação imediata do sistema de controlo do cumprimento das obrigações salariais, mas a sua passagem do regulamento de disciplina para o regulamento de competições da Liga, uma "habilidade jurídica" que não visa mais do que retirar do escrutínio da AG da FPF e colocar na exclusiva disponibilidade das sociedades desportivas que aprovam o referido regulamento de competições da Liga, a manutenção, alteração, ou revogação do atual modelo, como bem entenderem.

Este caminho é perigoso, coloca em causa o sistema de equilíbrio de poderes, e fica por demais evidente que regular, neste caso, em benefício próprio, trará entropias e retardará outras medidas, essas sim mais urgentes, como por exemplo no âmbito de PER´s (Planos Especiais de Revitalização) e SIREVE´s (Sistemas de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial), que alguns clubes profissionais vêm a utilizar e incumprir há mais de uma década.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (25 de junho de 2019)

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