Ao lado de Fábio Paim


Estive com o Fábio Paim em diferentes momentos da sua vida, nunca num momento tão difícil como aquele em que agora o encontrei. Independentemente dos erros cometidos, continuarei a estar ao lado de um rapaz de coração puro, apaixonado por futebol, tentado pelas piores escolhas, envolto num contexto social difícil de contornar.

Nesta, como noutras etapas da sua vida e com a consciência de que o futebol poderia fazer muito mais pelos "Fábios" que nos surgem no caminho, resta lutar para que um dos nossos não continue a ficar para trás.

O Fábio tem 31 anos, uma vida pela frente, a sua história de vida é conhecida, mas explorada muitas vezes para promover degradação e para reforçar uma imagem negativa, aquela que vai vendendo revistas e jornais.

Em 2016, quando o "recrutámos" para o Estágio do Jogador do Sindicato, queríamos dar-lhe a oportunidade de ressurgir a fazer o que mais gosta, ou de encontrar uma nova oportunidade, traçando uma estratégia para garantir a qualificação, empregabilidade e estabilidade familiar a médio prazo. Esse sonho foi interrompido, mas no que depender de nós tudo faremos para o retomar.

A história do Fábio devia envergonhar uma geração de dirigentes que apregoou a importância da formação sem ter qualquer preocupação com a formação integral do jogador. Ainda hoje, sobram resquícios deste dirigismo e liderança que põe de parte o acompanhamento socioeducativo e a compatibilização entre futebol e escola, em nome do incremento da performance, de foco no campo e na bola, que acaba em situações de catástrofe financeira, défice de qualificações, dificuldades de empregabilidade e marginalização social.

Em Caxias, ironicamente a poucos metros da casa mãe do futebol português, o Fábio permanece esperançoso, e continuará a contar connosco.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (20 de agosto de 2019)

Mais Opiniões.