Portugal a pensar futebol


Esta semana não posso deixar de elogiar a exibição da nossa seleção A em Belgrado. Num terreno difícil provámos a nossa capacidade de superação, gerimos a pressão de forma fantástica e mostrámos o talento, inequívoco, que esta seleção tem. Estamos no caminho certo. Jogo a jogo, como temos vindo a fazer, estou certo, iremos conquistar os nossos objetivos.

Dito isto, na semana que passou tive a oportunidade de visitar a Soccerex, evento que juntou em Portugal personalidades bem conhecidas do futebol mundial. Destaco uma reflexão em particular, a do sistema de transferências e desenvolvimento atual da indústria, onde ficámos a conhecer as principais transações financeiras.

Em representação da FIFPro (sindicato mundial dos jogadores) esteve o Secretário Geral Theo Van Seggelen, que deixou uma visão pragmática sobre os desafios que se colocam aos stakeholders europeus e mundiais.

Destaco alguns deles, a começar pela redistribuição da receita. É visível que as chamadas "big five" continuam a concentrar em si a maior parte da riqueza e os mais prestigiados profissionais, batendo recordes ano a ano, com o enfraquecimento em sentido inverso das restantes ligas.

Como vamos garantir a sustentabilidade das competições em todo o mundo e, com isso, a estabilidade laboral dos atletas que nelas participam? Acerca das transferências e dos seus intervenientes, urge implementar a "clearing house" e tornar transparentes os fluxos financeiros associados às transferências e comissões pagas, garantindo maior eficiência do modelo e certezas do reinvestimento na própria modalidade.

Falando, ainda, em comissões de intermediários, o modelo FIFA falhou, obviamente. A desregulação trouxe a falta de transparência e conflitos de interesses, a completa subversão do papel do agente numa negociação contratual. Regular de forma eficaz, reforçar a estabilidade contratual e garantir a educação deste importante "player" do mercado foram as ideias mais debatidas.

Esta reflexão não difere muito daquilo que falamos a nível interno quando se abordam os "negócios do futebol". Para a FIFPro, a defesa da sustentabilidade do sistema como um todo é a garantia de que o futebol, enquanto desporto mais praticado no mundo, tem a capacidade de se reinventar no sentido de juntar à sua popularidade a auto regulação e boa governação que garantam o presente e futuro de clubes e jogadores, independentemente do local onde é praticado. FIFA, UEFA, European Leagues e ECA estarão assim tão longe de comungar deste objetivo?

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (10 de setembro de 2019)

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