Novos tempos, menos valores


Esta semana são múltiplos os tópicos a abordar no que respeita à relação entre a sociedade e o futebol, bem como à instrumentalização da figura do jogador, para defesa de outros interesses, políticos ou clubísticos, seguramente fora do normal espírito do desporto.

Nesta última semana falou-se da entrada do Fábio Cardoso no jogo frente ao FC Porto, entrada dura que coloca em risco a integridade de um colega, que deve ser sancionada dentro das leis do jogo. Mas ser utilizada como cavalo de batalha nas guerras da clubite, em total desrespeito pela honestidade, trabalho e espírito de sacrifício dos jogadores, é inaceitável.

Depois de ter publicamente defendido o Bruno Fernandes, por aquilo que representa enquanto jogador, pessoa e capitão, e esperando que o futebol, mas também os meios de comunicação, soubessem respeitá-lo, e nele a todos os jogadores, voltamos a ter o cometimento de um ilícito. A divulgação de uma conversa privada e o aproveitamento para falar de tudo o que menos interessa falar, fora das quatro linhas. Mais uma vez, inaceitável.

Na mesma semana, os reflexos do caso de Bernardo Silva. Custa-me colocar o Bernardo e a palavra racismo na mesma frase. Falo com conhecimento de causa e trabalho feito na luta contra o racismo, isto é, com a autoridade para defender um jovem que é um exemplo no clube e na Seleção Nacional.

Todos sabemos da relação de amizade que o Bernardo mantém desde os tempos do Mónaco com Mendy.  Enfim, sou daqueles que defende tolerância zero, mas também a seriedade e a responsabilidade antes de acusar alguém.

Esta abordagem mediática é perigosa. Corremos o risco de condenar os inocentes e idolatrar os culpados. Vivemos num mundo ao contrário, perigoso, e especialmente quem é figura pública, no desporto, tem de estar preparado para este aproveitamento indevido das suas condutas.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (1 de outubro de 2019)

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