Jogo duplo: início do desfecho
Os factos remontam à época 2015/16, o processo é conhecido por "Jogo Duplo" e é a primeira vez em que o "match-fixing" foi (oficialmente) identificado em Portugal.
O desfecho começa agora a ser conhecido com a decisão do processo disciplinar instaurado pela Federação, do qual resultou a pena de suspensão e multa a dois jogadores. No dia 25 de outubro é a decisão do processo criminal, depois de escrutinados todos os meios de prova recolhidos, mais do que aqueles que puderam ser valorados em processo disciplinar.
Enquanto presidente do Sindicato, aplaudo a decisão, mas critico a morosidade com que tudo continua a acontecer na justiça desportiva em Portugal.
Reconheço a complexidade da matéria, respeito a importância de assegurar todos os atos processuais e garantir o exercício dos direitos de defesa pelos arguidos, mas o tempo que mediou entre aquela fatídica temporada 2015/16 e o dia de hoje, na perspetiva do prejuízo para os jogadores e agentes desportivos declarados inocentes, não tem reparação possível, quer no prejuízo para as carreiras dos acusados, quer no sentimento da realização da justiça na comunidade desportiva, e perante o público em geral.
A justiça desportiva tem de ser mais célere sob pena de não cumprir o seu propósito.
Crítica extensiva ao processo crime. Se trabalhamos diariamente para condenar este fenómeno, exigimos "tolerância zero" ao organizador da competição, formamos e criamos mecanismos de denúncia, não podemos esperar tanto tempo pelo desfecho e não podemos ignorar cada uma das pessoas cuja absolvição, a ocorrer, vem demasiado tarde para reparar o prejuízo que a suspeita de manipulação de resultados provocou nas suas relações profissionais e pessoais.
Nota final para os fatores de risco que perduram, em especial para o Campeonato de Portugal, onde a fragilidade financeira de clubes e jogadores nos torna um alvo fácil.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (22 de outubro de 2019)