Migrantes, que futuro?


A propósito da participação na conferência organizada pelo Comité Olímpico de Portugal, sobre migrações, desporto e religiões, tive a oportunidade de me debruçar publicamente sobre o tema da imigração ilegal no futebol português e contextualizar um problema que ganha maior expressão a cada época desportiva.

Os números falam por si: Portugal é porta de entrada para o mercado do futebol europeu e registou, em 2018, o maior fluxo de transferências internacionais do mundo proveniente do Brasil; Portugal continua a registar inúmeros casos de jogadores abandonados e em situação irregular no país, maioritariamente provenientes dos continentes sul-americano e africano, atraídos pela infrutífera promessa de jogar futebol ao mais alto nível.

Em articulação com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e com propostas concretas acolhidas pela Federação Portuguesa de Futebol, no sentido de responsabilizar disciplinarmente clubes e dirigentes que acobertem situações desumanas, fraudulentas e criminosas de recrutamento de atletas em situação ilegal, especialmente preocupante nas competições não profissionais de âmbito nacional, ou regional, permaneço muito preocupado com a falta de capacidade de resposta dos organismos de Estado e do sistema desportivo.

Arrisco dizer, para muitos jovens enganados por clubes e (falsos) intermediários, o apoio do Sindicato foi o único disponível, em situação de emergência, para evitar que caíssem na rua. O repatriamento nestes casos tem de ser garantido com outra celeridade, pelo Estado ou instituições desportivas com competência delegada, em nome de direitos humanos que não podemos continuar a proteger sozinhos e com a impunidade de quem os viola.

Por fim, uma palavra para o nosso André Gomes. Neste momento difícil, estamos contigo companheiro. Rápida recuperação, regressarás mais forte.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (5 de novembro de 2019)

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