Ser ou não ser treinador?
Esta semana faço uma breve reflexão com base no conhecimento da lei, dos regulamentos e da experiência vivida por alguns ex-jogadores que acompanhei de perto na caminhada para exercer a profissão de treinador de futebol.
As críticas à aposta do Braga em Rúben Amorim merecem, a meu ver, maior honestidade na ótica de quem condena.
Começo por reconhecer o único argumento razoável, para exercer a profissão. De facto, há que estar habilitado a tal. Mas o que significa isso hoje, não há uns meses? Lembro os mais desatentos que graças a um esforço de quem tem estado cá para defender os jogadores e dignificar o seu percurso desportivo, a lei mudou, para promover as chamadas carreiras duais.
Os "legalistas" devem, então, saber que a lei quis dar aos atletas de elite a oportunidade de valorizarem a sua experiência profissional, progredirem na aquisição de conhecimentos teóricos e desenvolverem a componente prática num período razoável e que lhes permita, verdadeiramente, transitar de carreira.
Acabou, como a lei previa, a ideia de um modelo académico, obsoleto a meu ver e nalguns casos desajustado da realidade, de quem pisou relvados na função de praticante desportivo profissional, mas também contactou com treinadores e equipas técnicas de elite.
Espero que este tipo de "agressão" aos ex-jogadores, hoje treinadores, gostem ou não, não sirva para afirmar o corporativismo latente quando aguardamos o despacho do IPDJ e as normas de funcionamento regulamentar dos novos cursos que confirmarão se o novo sistema vai ou não promover, efetivamente, a carreira dual.
Cá estaremos para analisar se os críticos darão uma oportunidade ao novo sistema para incorporar, na formação de atletas de elite, os mecanismos indispensáveis a que possam completar a sua formação no tempo devido.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (7 de janeiro de 2020)