Do orçamento ao terreno


Esta semana, tendo sido conhecidas as medidas que acompanham o relatório do governo para a aplicação do Orçamento de Estado no desporto, com ênfase no aperfeiçoamento dos programas de preparação olímpica e paralímpica, combate ao racismo, violência no desporto, dopagem e manipulação de resultados, matérias absolutamente unânimes do ponto de vista da necessidade de investimento, faltam ideias para a aplicação de recursos numa economia social para o desporto, em degradação, que se traduza em efeitos práticos e mudanças objetivas na vida de centenas de praticantes desportivos profissionais, que vivem na ténue linha que traça o sucesso e a estabilidade financeira, mas também o infortúnio, o insucesso e a degradação pessoal, sem que haja adequados mecanismos de assistência social, como sabemos.

Fazendo o exercício de tornar pragmáticas medidas que muitas vezes ficam no programático, esta carreira de desgaste rápido e curta duração, que é objeto de cada vez mais programas de incentivo à qualificação, ao desenvolvimento de uma carreira dual, à preparação da transição, carece da correspondente implementação de medidas de apoio financeiro que satisfaçam a responsabilidade, também ela pública, de atendar à especificidade da atividade profissional destas pessoas e desmistificar que no nosso país não garante, na esmagadora maioria dos casos, uma posição de privilégio e de salvaguarda da estabilidade financeira ao longo da vida.

Para refletir, querem-se medidas mais próximas da realidade dos praticantes, mensuráveis no seu quotidiano e na lógica de garantir, pelo menos, justiça na prestação de apoios sociais.

Duas notas finais. Enorme alegria pela prestação da seleção de andebol, profunda tristeza e consternação pela morte de Paulo Gonçalves no Rali Dakar, um exemplo de desportista, a todos os níveis.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (14 de janeiro de 2020)

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