A pandemia dos maus vícios
Esta semana não vou falar do coronavírus mas de outro surto que cresce no futebol português. Não posso deixar de abordar o problema gritante que invade o Campeonato de Portugal e que carece das entidades desportivas, das autoridades com competência em matéria de investigação criminal e dos próprios agentes desportivos uma tomada de posição.
Refiro-me ao fenómeno dos contratos paralelos que toma hoje, com o investimento desregulado das SAD´s, proporções inimagináveis. A proliferação de vínculos amadores irregulares, que têm subjacente uma relação laboral e, por isso, tornam especialmente grave a situação pessoal e financeira dos jogadores quando existe incumprimento é apenas a face visível de um problema maior.
Depois de meses caóticos para os jogadores do CD Fátima SAD e da Leiria SAD, entramos numa nova vaga de incumprimento e abandono (vulgo dispensa) de jogadores estrangeiros, cujos processos de legalização estão, muitas vezes, instruídos pelos clubes de forma irregular, desde logo, mediante a apresentação de contractos fictícios ou para o exercício de funções que não correspondem às que os jogadores exercem na verdade. O Marinhense, caso mais recente, não é infelizmente o único. Só no meio destas linhas já enumerei ilícitos disciplinares e criminais suficientes para nos preocupar a todos, por comprometer a integridade das nossas competições. Além do trabalho para rever medidas e procedimentos, não deixaremos de denunciar, por todos os meios à nossa disposição, estas situações. Aos jogadores deixo uma mensagem de cautela e apelo, para que informem previamente a assumirem compromissos desportivos, sobre direitos e obrigações.
A terminar e pela positiva, uma mensagem de agradecimento ao Rui Patrício por ter aceite o nosso convite para integrar o global “Players Council” da FIFPro. A classe não poderia estar mais bem representada.Artigo de opinião publicado em: jornal Record (4 de fevereiro de 2020)