Responsabilidade perante a crise


O futebol português vive, por estes dias, um período de grande indefinição, com forte discussão sobre as melhores soluções para a crise financeira.

Sobre o recurso ao lay-off, deixo nestas linhas, para reflexão, aquilo que fomos constatando. Quem quis enxertar no futebol este mecanismo criado no regime laboral comum, e adaptado para a crise da COVID-19, fê-lo consciente de que haviam outras opções, desde logo uma negociação séria com os jogadores, algo que as recomendações recentes da FIFA enquadram como essencial, devendo respeitar-se a proporcionalidade e reservar sempre que possível o direito à restituição futura, protegendo a estabilidade das relações laborais.

Nas competições profissionais existem bons exemplos de dirigentes que, neste espírito construtivo, já promoveram o acordo que se impunha. Sobre quem recorreu ao lay-off, ou pondera recorrer, cá estaremos para escrutinar a aplicabilidade deste mecanismo, a racionalidade financeira do mesmo e o comportamento das sociedades desportivas a médio prazo, a começar pela próxima janela de transferências. O desporto, mas também o Estado, na figura da ACT, exigirão o máximo rigor.

A decisão da FPF em dar por terminadas as competições não profissionais, em defesa da saúde pública, motivou, contudo, o problema de muitos clubes quererem desobrigar-se, romper compromissos e boicotar até o acesso aos apoios financeiros criados para assegurar que as relações laborais não serão prejudicadas.

Sem generalizar, temos vários relatos de clubes que se recusam a negociar. Este comportamento não deixará de merecer uma reação ativa do Sindicato, a começar pelo pedido de restrições regulamentares que têm de ser impostas no acesso à competição na próxima época desportiva e inscrição de novos jogadores, na defesa de quem ficar para trás, mas também dos clubes que agora se esforçam para encontrar soluções.

Termino com um agradecimento enorme à Seleção, representada pelo capitão Ronaldo, devido ao nobre gesto para com o futebol amador. A partilha de parte do prémio da qualificação para o Euro é, como tem sido sempre nesta crise, a prova de que são os jogadores a dar o exemplo.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (14 de abril de 2020)

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