Menos instrumentalização, mais união


O balanço do trabalho com os capitães de equipa, nos diferentes escalões competitivos, ao longo dos últimos meses, é muito positivo.

O período que vivemos é de todo excecional e o equilíbrio entre a defesa dos interesses pessoais, do grupo de trabalho e da relação com os clubes não é, para quem representa um plantel, nada fácil de gerir.

Louvo, por isso, o pluralismo e contributo de todos. Vamos entrar num período particularmente difícil, em especial nos escalões onde não foi possível retomar a competição e, por isso, a capacidade de gerir este equilíbrio entre os interesses individuais e coletivos dos profissionais de futebol, na relação com os empregadores, torna-se fundamental.

Continuo a enaltecer a capacidade de liderança de muitos capitães e a pertinência das suas afirmações, pois são eles, mais do que ninguém, que têm a noção plena do problema que enfrentamos.

Pela negativa, realço vários episódios de tentativa de instrumentalização por parte de dirigentes e diretores desportivos, atos que só põem em causa o respeito mútuo que deve imperar.

Duas notas finais. A primeira para a liberdade de expressão que não deve ser toldada por estes. Ouvir um dirigente do Cova da Piedade afirmar que a posição do capitão Edinho não vincula o clube, num contexto de clara crítica, voltou a lembrar-me que continuamos a premiar o silêncio e a preferir que os protagonistas não tenham voz.

Antes de jogador e capitão, o Edinho é um cidadão, trabalhador, com plena liberdade de expressão e, por isso, merecia mais respeito face ao legítimo desabafo que teve pela situação na II Liga.

Os jogadores devem ter voz, poder falar daquilo que os afeta e aflige, ter opiniões divergentes, sobretudo nesta altura em que procuramos soluções para problemas novos.

Nota final para subscrever um ponto importante da última reflexão de Fernando Gomes, presidente da FPF. O futuro do futebol português não está garantido e depende, sobretudo, da nossa capacidade de união.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (5 de maio de 2020)

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