Os limites da indecência


A crise provocada pela Covid-19 revelou inúmeros comportamentos de elevação e dignidade, mas tantos outros de clara prepotência, dando uma imagem deplorável do dirigismo e do futebol português.

Sobre o ataque que me foi dirigido pelo presidente da Leixões SAD, Paulo Lopo, no seguimento das notícias vindas a público sobre as irregularidades cometidas ao longo desta época, só posso lamentar a atitude que dispensa qualificação.

Este comportamento traduz uma tendência, que alguns dirigentes decidiram adotar, de vitimização, quando interessa, e de figura autoritária, assente em projetos pessoais, sem qualquer relação com o desenvolvimento do futebol e proteção dos seus principais intervenientes.

Aqueles que se refugiam na lei para justificar atentados ao que de mais básico as relações laborais e humanas exigem: respeito, diálogo, confiança, reciprocidade. Entramos num submundo que afeta a imagem e a credibilidade de todos. A atitude de alguns dirigentes, sobretudo num momento singular para o país e para desporto, é reprovável e não deve ficar impune.

Fernando Gomes, presidente da FPF, num artigo de opinião recente, sob o título "o futuro do futebol não está garantido", foi claro: "Teremos, nós os do futebol, de introduzir critérios mais exigentes na construção dos nossos projetos desportivos. Escolher bem diretores desportivos, treinadores, jogadores". É fundamental que assim seja, quem tem mais responsabilidade, tem de fazer um esforço maior para credibilizar o setor.

Acima de tudo, é preciso evitar que no interesse egoístico de cada dirigente possa valer tudo, pôr em causa a dignidade dos jogadores e a imagem dos próprios clubes, afetando a estabilidade que deveria ser procurada tendo em vista a saída desta crise. O dirigismo não pode continuar a ser isto.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (19 de maio de 2020)

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