Os efeitos da crise no futebol feminino


O tema não é novo e a FIFPro já alertou sobre algumas questões estruturais que não podem ser esquecidas no momento de considerar a retoma da atividade desportiva. Se é verdade que os efeitos do cancelamento de competições provocado pela pandemia têm um impacto muito preocupante no futebol masculino, não é menos verdade que podemos assistir a um efeito potencialmente devastador no crescimento que o futebol feminino até aqui estava a ter. São sinais óbvios e constatados no contacto regular com vários dirigentes.

No documento já publicado, a que chamou "COVID-19, Implications for Professional Women’s Football", a FIFPro retrata a situação atual e deixa claro que é preciso manter as medidas de apoio e incentivo financeiro ao desenvolvimento do futebol feminino, na medida em que o nível de precariedade das relações laborais nesta modalidade continua a ser muito significativo.

 

“REVELA-SE ESSENCIAL UM PLANO DE APOIO AOS CLUBES E MEDIDAS DE PROTEÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS JOGADORAS.”

 

Não podemos esquecer que muitas atletas escolheram esta carreira, deixaram atividades profissionais que tinham para se dedicar, em exclusivo, ao futebol, viajaram do estrangeiro para o desafio de participar numa liga em crescimento, ao serviço de clubes nacionais que gradualmente têm reforçado o investimento.

A reformulação de quadros competitivos e o adiamento de torneios internacionais vai, também, trazer menor visibilidade que, como sabemos, tem sido um fator decisivo para atrair potenciais patrocinadores. Todos nos lembramos do impacto que tiveram os últimos campeonatos da Europa e do Mundo.

Voltando a Portugal, temos vindo a dar passos no sentido de garantir a profissionalização de mais jogadoras e elevar as condições para a prática desportiva, mas a estabilidade contratual ainda é débil. Revela-se essencial um plano de apoio aos clubes e medidas de proteção das condições de trabalho das jogadoras.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (26 de maio de 2020)

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