As Odemiras do país desportivo


Portugal não pode ficar indiferente às condições laborais e de habitabilidade dos imigrantes no setor agrícola, como não pode ignorar que existem centenas de imigrantes, por múltiplos setores de atividade, que embora contribuam, como qualquer cidadão, para o desenvolvimento do país, paguem os seus impostos e partilhem dos mesmos objetivos de vida, não têm reconhecidos os mesmos direitos, nem vislumbram a vida condigna que um estado de direito tem a obrigação de consagrar.

No futebol já vi, infelizmente, muitos episódios da mais elementar violação de direitos humanos, famílias que se endividam para enviar os seus jovens às cegas para Portugal e o recrutamento de atletas estrangeiros com a falsa promessa de um salário e condições de vida estáveis.

Esbarram, tantas vezes, à chegada ao país, percebendo logo que foram enganados, ou ao fim de algum tempo ao serviço de um clube de futebol, em regra de escalões inferiores e com menor exposição pública, que por culpa própria ou porque confiou nas pessoas erradas, acaba por negar a mais básica assistência. Não querendo generalizar, temos de reconhecer que estes casos sucedem demasiadas vezes.

Em articulação com a FPF e em diálogo com o SEF, temos procurado alterações regulamentares e partilha de informação com as autoridades que restrinja os subterfúgios de redes de auxílio à imigração ilegal e tráfico de pessoas.

Quero, igualmente, destacar o passo simbólico que a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto deu, a pedido do Sindicato, ao promover um diálogo multidisciplinar, entre quem está no terreno e os ministérios com tutela das questões da imigração, apoios sociais e justiça.

Não podemos desistir destas pessoas, nem sozinhos lhes conseguiremos dar as respostas de que precisam. Trata-se de uma causa de e por todos.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (11 de maio de 2021)

Mais Opiniões.