O campeonato de Eriksen


O Europeu fica indiscutivelmente marcado pelo colapso de Eriksen frente à Finlândia, os momentos dramáticos que se seguiram e o enorme desconforto em saber que foi deixada aos jogadores, visivelmente em choque, a decisão de voltar para concluir o menos importante naquele momento: o jogo.

O desfibrilhador e a ação rapidíssima da equipa médica salvaram a vida que, em tantos outros campos, foi ceifada pela falta de um protocolo eficaz.

O sentimento de alívio e felicidade contrastou com a sensação de que toda a delegação dinamarquesa merecia a oportunidade de se recompor dignamente daquele choque.

Sem poder estabelecer ligações necessárias entre eventos deste tipo e sobrecarga competitiva, não posso deixar de reforçar o alerta que a FIFPro tem deixado sobre a sobrecarga de jogos, treinos e viagens, o encurtamento das férias e a sucessão de jogos em períodos críticos de recuperação, que atiram jogadores de elite para a necessidade de exceder limites, com necessárias consequências a médio e longo prazo.

Se já vivíamos numa espécie de montanha-russa competitiva para encaixar no ciclo 2021/22 as qualificações, o Euro, e os calendários até ao Mundial do Qatar, a Covid veio restringir ainda mais os espaços de recuperação.

Não é difícil encontrar evidência científica da maior propensão para a ocorrência de lesões, mas sobre este tipo de problemas cardíacos permanecem dúvidas e receios. Jogadores querem jogar, clubes e organizadores querem competir, é preciso gerar receitas, tudo verdades que não podem nunca comprometer a saúde e bem-estar dos atletas. Esse tem de ser um direito fundamental e inalienável dos próprios.

Termino com uma mensagem de força à nossa Seleção e que possam dedicar muitos triunfos ao Neno, que nunca esqueceremos.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (15 de junho de 2021)

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