Os Estados e a Clearing House


A Operação ‘Cartão Vermelho’ voltou a confrontar o futebol com a necessidade de se reestruturar, criando condições para que boa governação e transparência não sejam apenas expressões que assentam bem em discursos políticos e princípios normativos introduzidos em regulamentos pouco eficazes.

Precisamos de um sistema de fiscalização mais apertado e outro tipo de contacto com os reguladores financeiros e autoridades fiscais. Muitos países já perceberam o impacto financeiro gerado pelo futebol - estão literalmente em cima disso.

Essa pode ser a chave para garantir uma solução efetiva para alguns dos males de que padece esta indústria. As múltiplas investigações em curso relacionadas com a opacidade das transferências de jogadores, utilização de testas de ferro em operações de intermediação, complexos esquemas de fraude e branqueamento de capitais, lesando desde logo os estados dos países onde se realizam as transações, fazem-nos necessariamente refletir sobre o que faltou para implementar a Clearing House da FIFA e no sucesso que o modelo poderia ter, se o futebol pusesse de lado as ambições de controlo absoluto, permitindo o envolvimento dos Estados na construção das ferramentas de partilha de informação em matéria económico-fiscal, que ajudassem a tornar claros e menos dependentes das descobertas da investigação criminal os vícios a combater.

No fundo, esta medida cairia bem no programa de qualquer Estado comprometido com uma política de transparência e combate à corrupção, não apenas na agenda da FIFA.

Termino com um agradecimento à equipa do SJPF, que preparou a 19.ª edição do Estágio do Jogador, que começa esta semana, em Odivelas. Nuno Campos, ex-adjunto de Paulo Fonseca, será o timoneiro deste ano. A não perder.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (20 de julho de 2021) 

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