A destruição da saúde
Simon Biles é mais um exemplo daquilo que hoje tem necessariamente de ser dado como assente: a saúde mental é um bem difícil de preservar ao longo da carreira desportiva, por mais brilhante e repleta de títulos que esta seja.
Biles personificou a superação em vários momentos, mas também nos confrontou com a crueldade da vida desportiva. Depois de ser um dos rostos da clara insuficiência da organização desportiva que representa para proteger as atletas de abusos sexuais e trazer as evidências de que o medo persiste, pela falta de informação e pelos protocolos ineficazes ou mesmo inexistentes para garantir a denúncia, a ação criminal e disciplinar sobre os visados e a proteção da vítima, Biles colocou ainda mais em foco o problema da saúde mental.
A realidade dos Jogos Olímpicos não difere muito daquilo a que assistimos no futebol profissional. Incremento dos sintomas de ansiedade e depressão, desgaste psicológico acentuado pela sobrecarga competitiva, maior dificuldade em gerir expetativas ou reagir positivamente aos estímulos negativos que vêm da bancada ou das redes sociais, problemas na transição.
A investigação e os relatos existentes tornam claro que é preciso diagnosticar e garantir acompanhamento adequado aos atletas, para que os sintomas de perturbação psicológica não evoluam para além da simples quebra de rendimento e terminem, infelizmente, em atos desesperados de pessoas que muitas vezes não conseguem vislumbrar nada além da sua identidade atlética.
Nunca foi tão importante disponibilizar apoio psicológico e considerar os fatores de perturbação mais comuns na organização dos eventos desportivos. Quero, finalmente, deixar ao Jorge Fonseca e à Patrícia Mamona os parabéns pelo feito incrível que alcançaram. Que enorme orgulho.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (3 de agosto de 2021)