Futebol e ativismo


Tive oportunidade de ouvir pela primeira vez Khalida Popal, além de tudo o que já conhecia da sua história e do projeto ‘Girlpower’, que desenvolve na Dinamarca, aquando do webinar organizado pelo Sindicato dos Jogadores no âmbito do projeto SPIN Women.

Recordo a forma como abordou, frontalmente, as questões do racismo, perseguição religiosa e discriminação de género ou em função da orientação sexual, alertando para a importância do ativismo feminino, a construção de ‘role models’, no desporto como em outros setores, em defesa de valores civilizacionais para os quais o país de origem e muitos outros tendem, não só a ignorar, como a suprimir.

Khalida foi a voz para além do politicamente correto, no turbilhão gerado pela ascensão talibã no Afeganistão, convicta de que nenhuma futebolista estará a salvo naquele país.

Há dias em que nos sentimos impotentes por termos jovens com este valor, desportistas de elite, dispostos a liderar e fazer a diferença, faltando espaço mediático e apoio das organizações.

Ainda assim, existem dias bons, momentos em que o futebol, por vezes obcecado com a neutralidade face a tantos problemas civilizacionais, exerce a sua plena capacidade de influência.

Fico, por isso, muito satisfeito por ver FIFA e FIFPro a cooperar no sentido de garantir o resgate de atletas afegãos, em especial as mulheres, que precisarão de um verdadeiro esforço coletivo para a integração nos novos países. Esse é o desafio seguinte.

Esta semana termino com um abraço especial ao Chico Gomes e ao Tiago Caeiro, dois associados do Sindicato que recentemente anunciaram o fim das respetivas carreiras. Homens bem formados, atletas de excelência, por quem tenho enorme estima e espero ver ligados ao futebol, rapidamente, noutras funções.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (24 de agosto de 2021)

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