Pior era difícil


O jogo entre a Belenenses SAD e o Benfica fica marcado por um conjunto de inacreditáveis decisões, um assassinato da integridade e da ética desportiva, e uma especial preocupação de cada envolvido em demarcar-se de responsabilidades, sem prejuízo do regulamento e protocolo em vigor.

Clarificar a esfera de ação de cada um e dar nota do que se fez de diferente, como se a pandemia nunca tivesse obrigado a decisões que alteram os critérios inicialmente estabelecidas, é muito pouco.

Até ao momento, faltou articulação para encontrar uma resposta que possa garantir que este desastre não se volta a repetir. A pandemia não acabou e surtos em equipas das diferentes competições, masculinas e femininas, vão acontecer.

Isto já não é sobre o caso que nos envergonha, é sobre a forma como o futebol se comporta perante problemas que seriam facilmente resolvidos se o bom senso e a articulação institucional verdadeiramente funcionassem.

Fica, igualmente, uma sensação de desamparo pelas autoridades de saúde, que não sendo o organizador e decisor desportivo, deveriam dar cobertura para a tomada de decisões que dizem respeito à saúde pública.

Se este não era um caso para convocar circunstâncias de força maior para impedir a realização do jogo, e recorrer aos pontos de contacto que Liga e Federação construíram nestes quase dois anos de crise pandémica para, em conjunto, ser resolvido este impasse, o que será preciso acontecer?

Se já era vergonhoso o que se passava no Jamor, mais se tornou ao percebermos que tudo isto ainda comportou um risco acrescido de contágio para os intervenientes, sabendo-se que no caso da Belenenses SAD está em causa um surto provocado pela nova variante da Covid-19. Pior do que isto era difícil. Se aprendemos com este caso, tenho sérias dúvidas.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (30 de novembro de 2021)

Mais Opiniões.