Prejuízo para todos


Apesar das longas horas de discussão que me antecedem, os acontecimentos do clássico do último fim de semana são demasiado graves para não motivarem uma reflexão séria de todos os que têm responsabilidades no desporto.

No Dragão, voltámos a ter um exemplo flagrante de falta de cultura desportiva, onde se ultrapassaram os limites da rivalidade, verbalizaram e exteriorizaram comportamentos que vão muito para além da paixão que gera um jogo deste nível, tudo amplamente divulgado internacionalmente, com prejuízo para todos.

Sendo certo que os jogadores e equipas técnicas precisam, claramente, de mudar a sua abordagem, desde logo porque não vemos muitos dos comportamentos que ocorrem na Liga portuguesa suceder nos principais campeonatos europeus, quando fora das quatro linhas, as figuras laterais, os elementos de apoio à organização dos eventos desportivos perdem a noção e se prestam a criar um ambiente de guerrilha, é preciso atuar sem receios, porque estas pessoas definitivamente não têm lugar no nosso desporto.

A lei foi revista, os regulamentos e a eficácia da sua aplicação também o podem ser, os mecanismos existentes para a identificação de atos de violência e respetivos autores podem ser aprimorados, desde logo com recurso à tecnologia, podemos ir ao encontro das mais modernas estratégias de combate à violência, mas enquanto não existir uma assunção coletiva de responsabilidade, um esforço para a pedagogia, respeito mútuo e mudança comportamental de todos os atores do futebol português não vamos deixar de ter casos vergonhosos como aquele que se verificou no último fim de semana, em diferentes palcos e com diferentes protagonistas.

Temos a obrigação de fazer melhor, todos e sem desculpas, com o pragmatismo de quem sabe que voltará a suceder.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (15 de fevereiro de 2022)

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