O fair play financeiro da UEFA


Na indústria do futebol existem duas áreas que estão em constante confrontação face aos problemas que surgem no terreno. O licenciamento dos clubes, isto é, as regras associadas à gestão das receitas e gastos, e os mecanismos de distribuição dessas mesmas receitas, por forma a garantir algum equilíbrio competitivo e sustentabilidade da indústria.

A UEFA irá alterar o seu modelo de licenciamento, tendo sido amplamente noticiada a aprovação de uma limitação dos gastos com massa salarial e transferências de 90%, numa primeira fase, e 70%, numa segunda fase, em relação às receitas anuais dos clubes que participem nas suas provas.

O problema dos desequilíbrios provocados pelo modelo anterior e a gestão financeira dos chamados "clubes estado" pode começar, de facto, a ser atacado com o estabelecimento de critérios de licenciamento diferentes.

Porém, sem trabalhar a fiscalização da proveniência dessas receitas e, sobretudo, definir mecanismos de solidariedade entre clubes e ligas europeias, qualquer modelo será insuficiente.

O futebol europeu tenta recuperar da ameaça de uma Superliga, de suspeitas da ligação de clubes a fluxos financeiros obscuros, de uma desvalorização e perda de competitividade dos países e ligas fora das chamadas big-5.

Nesta matéria, quem representa os trabalhadores será sempre apologista de um modelo que, no seu global, seja eficaz, previna situações de incumprimento provocados por um processo de licenciamento deficitário, mas não se limite a ver na necessidade de equilibrar a massa salarial face às receitas o único objetivo. É preciso coragem para abordar a proveniência, a orçamentação e a gestão de receitas pelos clubes europeus.

Termino com uma nota de pesar pelo falecimento de Kalindi Souza, endereçando a toda a família, amigos e clubes que representou sentidas condolências.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (12 de abril de 2022)

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