A cultura instalada


Depois de mais uma jornada de bom futebol e numa altura em que as competições entram na fase decisiva, é lamentável assistir a mais um caso de racismo nos estádios portugueses, sendo vítima, desta vez, o jogador Sandro Cruz, do Benfica, a quem deixo uma mensagem de solidariedade.

Não posso deixar de reiterar à luz deste caso que a última revisão legislativa não gerou ainda na comunidade uma perceção de mudança de paradigma.

Com o reforço dos meios existentes para a investigação, o procedimento revisto, ou a possibilidade de aplicar sanções acessórias que podem ser, como sabemos, dissuasoras, não estamos a conseguir contrariar o sentimento de impunidade e o silêncio avassalador que fica depois de mais um acontecimento inaceitável, à espera do sancionamento adequado.

Sabemos que o problema é transversal a várias competições, masculinas e femininas, pelo que a educação e sensibilização não apenas direcionada aos agentes desportivos, mas a todos os adeptos de futebol, deve ser prioridade política.

A mudança faz-se com os agentes desportivos, em primeiro lugar, e toda a sociedade portuguesa, ao mesmo tempo, encarando como um dever de cidadania a revolta, intolerância e condenação a uma só voz de qualquer comportamento racista.

Igualmente visado por um texto inqualificável e legitimamente considerado como xenófobo foi o jogador Taremi, na senda de outro flagelo atual para a profissão de futebolista que resulta da legitimação da ofensa gratuita ao bom nome e profissionalismo dos atletas. Mais um péssimo exemplo.

Termino com um abraço a todos os jogadores da Associação Académica de Coimbra, sabendo das dificuldades pelas quais passaram e de tudo aquilo que deram para evitar este desfecho infeliz.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (19 de abril de 2022)

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