Problemas estruturais


Os esquemas de burla e auxílio à imigração ilegal no futebol continuam, infelizmente, a proliferar. Apesar das alterações promovidas ao nível dos requisitos para a inscrição de estrangeiros e responsabilidade dos clubes e dirigentes por violação dos seus deveres, continua a ser urgente uma verdadeira articulação entre Estado e entidades desportivas, no sentido de garantir resposta adequada aos casos sinalizados e proteção das vítimas.

A cada janela de transferências é por demais evidente a facilidade com que jovens são enganados, o que requer um verdadeiro compromisso coletivo, desde a partilha de informação com os serviços consulares, à sinalização e garantia de celeridade na identificação e sancionamento dos que criminosamente continuam a viver à custa destes esquemas.

Por mais planos estratégicos e medidas que se possam propor para o futebol português evoluir, a verdade é que a falta de articulação em matérias fundamentais como esta segue a puxar-nos para a lista dos maus exemplos.

Num início de época em que se esperava alguma serenidade e vontade de voltar a ver a bola a rolar, choca que naquele que foi o principal jogo da primeira jornada um jogador tenha sido forçado a desativar as suas redes sociais face a um cobarde e inaceitável chorrilho de insultos.

Infelizmente, o que aconteceu ao Ricardo Esgaio tornou-se no novo normal e pouco se faz para o evitar. O cyberbullying fere a dignidade dos atletas, mas também dos clubes e demais agentes desportivos.

O apelo que deixo, além da reflexão sobre medidas pedagógicas e de repressão a este tipo de comportamento, é a manutenção de um discurso responsável por todos os que têm intervenção no espaço público. O respeito pelos futebolistas e pelo futebol tem de começar dentro de casa.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (9 de agosto de 2022)

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