Assédio Sexual


O tema do momento exige uma profunda reflexão do desporto português, tratando-se o assédio sexual de uma prática recorrente, enraizada e desvalorizada em muitos casos. As jogadoras de futebol, as desportistas em geral e todas as mulheres portuguesas merecem respeito e dedicação a uma causa que não tem a ver com o género, mas com a defesa de valores civilizacionais. Mais do que reagir a quente, perante um caso, é preciso olhar de forma sistematizada para aquilo que falta fazer. Não basta falar de prevenção, nem reforçar os canais de denúncia existentes, se as vítimas não se sentirem seguras e não educarmos clubes e organizações desportivas a agir concertadamente, estamos condenados a repetir a mesma conversa de cada vez que um caso é tornado público. No Sindicato, aprendemos muito com o projeto europeu HALT, que integramos desde 2019. As propostas que apresentámos na sequência do último Conselho Nacional do Desporto nascem dessa experiência internacional e são perfeitamente exequíveis na realidade portuguesa.

Além de agravar molduras disciplinares, entendemos que cada clube e organização desportiva deve ter um protocolo de prevenção e resposta ao assédio sexual perfeitamente identificado, conhecido de toda a sua estrutura, protocolo esse que deve ser acompanhado da formação de um agente de prevenção, que pode ter diferentes funções e deve, sobretudo, ser próximo da realidade diária do clube, atento a quaisquer sinais de alerta. Além disso, no quadro da formação de treinadores é imprescindível abordar este tema e garantir a disseminação dos normativos em vigor. Deixo uma mensagem de total solidariedade para com todas as atletas que vivem situações de assédio sexual. Isto não pode ser aceite como normal nem tolerado, seja no futebol seja onde for.

 

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (20 de setembro de 2022)

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