Podemos ir além do óbvio?


Neste 18 de outubro, assinala-se o Dia Europeu Contra o Tráfico de Seres Humanos, crime hediondo que se manifesta de diferentes formas, entre as quais a exploração laboral. No futebol, o tráfico tem uma forte expressão, fruto da ação de recrutadores sem escrúpulos que procuram angariar talento e conseguem vender mão-de-obra gratuita.

Muito tem sido feito pelo Sindicato dos Jogadores para colocar o tema na ordem do dia e são vários os jogadores que já tiveram a coragem de dar a cara. Apesar da mobilização que procurámos fazer junto das organizações desportivas, SEF e Governo, em particular dos Ministérios da Justiça, Negócios Estrangeiros, Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, existe um caminho a percorrer para melhorar a resposta de combate ao tráfico, em particular, e imigração ilegal em geral, nomeadamente esquemas de auxílio à imigração ilegal ou burla, que continuam a suceder regularmente e não garantem as mesmas respostas de combate ao tráfico, ao nível da proteção da vítima.

Cada cidadão estrangeiro enganado e abandonado em território nacional é um ser humano que carece de resposta imediata, seja para permanecer com dignidade no país, seja para regressar em segurança a casa. A condenação destes fenómenos é óbvia, mas podemos ir além do óbvio?

Sensibilizar é importante e a criação de canais para partilha de informação entre redes consulares, SEF e organizações desportivas um imperativo. A dotação de meios para investigação e especialização dos órgãos de polícia criminal, assim como um verdadeiro programa nacional de repatriamento, sem custos para a vítima de burla, auxílio à imigração ilegal ou tráfico de seres humanos é, igualmente, fundamental. Podemos fazer mais e melhor na defesa destas pessoas.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (18 de outubro de 2022)

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