Um erro de dimensão mundial


Em contagem decrescente para o início do Campeonato do Mundo, é difícil manter o foco nos grandes jogos que iremos ter ao perceber, cada vez melhor, o quão promíscua foi a escolha do Qatar. O país que queria aproveitar esta oportunidade para se afirmar e demonstrar progresso civilizacional, só conseguiu demonstrar o desprezo pelos direitos e vidas de milhares de trabalhadores migrantes, bem como a rigidez cultural traduzida na intolerância para com os direitos humanos.

No plano desportivo, é absurdo que as infraestruturas de excelência e a climatização dos recintos sejam utilizados como argumentos para contrariar as reservas sobre a escolha do local, numa época que, embora vá a menos de metade, tem devastado a saúde e bem-estar dos jogadores, carregando-os com uma imensidão de jogos e competições, quase sempre realizados em períodos considerados críticos, por não respeitarem o tempo de recuperação física e psicológica.

Por mais que a FIFA exija que futebol e questões políticas não se misturem, é impensável que uma situação como esta deixe indiferentes jogadores, treinadores e equipas envolvidas. Espero que se retirem conclusões, a bem do futebol, dos seus protagonistas e de valores que deveriam ser comuns.

Este Mundial irá experimentar duas ferramentas tecnológicas que dizem respeito aos jogadores. Uma para monitorizar e bloquear manifestações de ódio e ataques nas redes sociais, outra relacionada com o acesso e gestão dos dados pessoais gerados durante a competição, resultantes da performance individual. A FIFPro e a FIFA procuram desenvolver estas áreas numa lógica de consciencialização dos atletas, em primeiro plano, visando a uniformização de princípios para futura regulamentação sobre os temas. 

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (15 de novembro de 2022)

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