O capitão, a Seleção e o país


Esta semana tive a oportunidade de me pronunciar sobre a polémica em torno do nosso capitão, Cristiano Ronaldo. Como declaração de interesses, gosto muito do Cristiano e destaco o que tem significado para os jogadores portugueses, na internacionalização do nosso futebol, e para marca Portugal, sendo ele o motivo para o reconhecimento da nossa bandeira nos lugares mais inóspitos.

Aprecio pessoas frontais como ele, que assumem os seus atos. Um profissional como ele não se pode prestar a tudo. Há limites, o contrato de trabalho não legitima todos os atos do clube.

Esta entrevista foi clarificadora, Cristiano não é hipócrita. Não vejo, enquanto representante dos jogadores, que seja justa outra posição que não a de respeitar o jogador e o homem, convicto da sua força interior e que, findo este importante momento na Seleção, conseguirá resolver, de modo consensual, a situação laboral com o Man. United.

Devemos ao Cristiano e a Portugal, que caminham de mãos dadas, que o foco esteja na participação desta talentosa geração no Mundial. Sabemos que nenhum minuto de futebol irá apagar o que se passou e passa no Qatar, nem devemos ser ingénuos ao ponto de pensar que a violação de direitos humanos e exploração laboral, como forma moderna de escravatura, ocorre só neste contexto.

Acredito que a atenção pública sobre estas questões criará espaço ao escrutínio público, que impulsionará o apoio às vítimas, com a ação cívica de pessoas e organizações que fazem a defesa dos direitos humanos. Os jogadores estão cada vez mais conscientes e querem dar voz a valores universais. Há uma nova geração, mais conectada e desperta para o ativismo social.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (22 de novembro de 2022)

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