A nação que fez bullying a si mesma
Cristiano Ronaldo é o meu capitão, referência maior do futebol português por tudo o que nos deu. Sobre a sua importância e compromisso com Portugal não existe discussão. Não conheço setor de atividade que tenha garantido mais sucesso internacional do que o futebol, nem personalidades, que tenham o reconhecimento dos seus pares nos quatro cantos do mundo como os nossos futebolistas, com Ronaldo à cabeça.
Temos um património inestimável e não consigo conceber como é que nas últimas semanas o espaço da comunicação social portuguesa foi dominado por polémicas. Foi impressionante registar que a aproximação dos jogos não inibiu minimamente o ruído e especulação à volta da seleção.
Vindo dos nossos rivais percebo, vindo do nosso país não consigo compreender. Não está em causa a liberdade de expressar opiniões e o direito à crítica. Está em causa o aproveitamento e o momento escolhido, sem qualquer tipo de critério, ou melhor, o único critério foi ad hominem.
Custa concluir que não convivemos bem com o nosso próprio sucesso, quanto mais o dos outros.
Neste Mundial, fomos a nação que fez bullying a si mesma. Apesar da enorme onda de apoio dos portugueses, nem sempre houve respeito pelos protagonistas, muito menos pelo nosso capitão, que debaixo de enorme pressão lutaram até ao fim.
Serve de reflexão para o futuro o quão importante para o sucesso desportivo é, também, a estabilidade emocional. Numa competição em que FIFA e FIFPro introduziram uma ferramenta digital para limitar a disseminação do discurso de ódio contra jogadores nas redes sociais, com resultados positivos, é curioso que a equipa nacional, com o nosso capitão em destaque, não teve tréguas nos media tradicionais.
Orgulho-me do nosso capitão e destes jogadores, de tudo o que fizeram neste Mundial e do que continuarão a fazer. Um obrigado do tamanho do vosso futebol.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (13 de dezembro de 2022)