CMAM – Touriga Nacional


Este fim de semana foi de futebol, futebol de contrastes. No sábado celebrei o futebol puro no Clube Mais Antigo do Mundo (CMAM). Este clube cuja memória se perde nos vinhedos da Adega Mãe, reúne talento puro e muitas promessas, há décadas à espera de dar o salto.

Aqui normalmente muda-se aos 5 e acaba aos 10. Depois do jogo, o Benjamim, o nosso ‘estrela Michelin’, já tem preparada a degustação que é, decididamente, a melhor parte. Tudo isto é possível graças à amizade e generosidade do Bernardo e Ricardo Riberalves, um apaixonado pelo bacalhau, outro pelo vinho, que têm em comum a paixão pelo futebol.

Perdoando o facto de cada um querer a bola só para si, agradeço em nome da equipa as horas intermináveis de futebol ta(lento). E se as qualidades desportivas de uns são melhores que as de outros, nas qualidades humanas todos são touriga nacional. No domingo foi dia de futebol profissional, num local improvável, com adeptos improváveis, jogou-se a final do campeonato do mundo, aquela que Portugal, não tenho dúvidas, podia ter jogado e ganhado.

Argentina e França realizaram-nos um jogo fantástico, com qualidade, emoção e uma enorme capacidade de superação dos jogadores. Uma final ao nível das melhores de sempre. Mas é impossível não pensar em todas as questões políticas e humanitárias.

Para o emirado foi uma montra, para a FIFA e para o futebol enquanto instrumento ao serviço desse objetivo, ficou a sensação de que, por mais geniais que os protagonistas tenham sido dentro de campo, nem a mais bela das finais apagaria tudo o que de errado aconteceu. 

Hoje dou por mim a pensar que se tivesse de optar entre um e outro evento, não tenho dúvidas, ainda assim jogar no CMAM continuaria a ser o programa de eleição. Obrigado, Fernando Lúcio, um brinde à vida. Viva o futebol em estado puro!

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (20 de dezembro de 2022)

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