Tráfico de menores: a novela continua
A atualidade desportiva está novamente a ser marcada por suspeitas de tráfico de seres humanos. Sobre as buscas realizadas pelo SEF, o alegado envolvimento de Mário Costa, presidente da AG da Liga ou o modus operandi da "BSports Academy", as instituições desportivas dificilmente se pronunciarão. É pena que a mediatização de investigações em curso ou a conclusão de processos judiciais seja a única forma de colocar o tema na ordem do dia.
É urgente reconhecer que temos um problema no futebol português, como evidenciou a presidente da Confederação Nacional de Ação sobre o Trabalho Infantil (CNASTI), a propósito do abandono de jovens futebolistas por clubes formadores. Paradoxalmente, ainda hoje se discute a bondade ou a eficácia da proibição de transferências de menores, imposta pela FIFA. Está em causa o direito à infância e ao acompanhamento familiar, a uma prática desportiva recreativa, à educação e formação integral.
A proibição da deslocalização de menores dos seus países de origem com intuito mercantilista ou exploratório, alimentado por uma indústria que suga talento, mas tritura aqueles que têm a infelicidade de ser considerados insuficientes, por se lesionarem ou simplesmente por deixarem de contar para quem lhes vendeu o sonho, não tem sido suficiente.
Neste fenómeno do tráfico, assim como nas situações de auxílio à imigração ilegal ou burla, que envolvem jovens, menores e maiores de idade, de pouco têm servido os alertas que o Sindicato tem deixado para a necessidade de uma resposta articulada entre Estado e instituições desportivas, com o devido auxílio às vítimas, garantindo a devida assistência, dando-lhes a dignidade para construir um projeto de vida em Portugal ou, quando não é possível, garantindo o seu regresso a casa, em condições de segurança.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (13 de junho de 2023)