Os interesses por trás da verdade


Estamos, ainda, muito longe de saber todos os contornos do ‘caso BSports’, as ramificações deste negócio e o papel que cada um dos seus intervenientes desempenhou. A verdade no nosso sistema resulta do somatório dos depoimentos das vítimas e da prova recolhida a sustentar em tribunal.

O tempo mediático e aquelas que o controlam parece, no entanto, fazer sucumbir o problema de fundo aos temas laterais que envolvem este caso, com contornos muito específicos e, em certa medida, diferentes das situações típicas que há anos acontecem nos mais diferentes escalões do futebol.

Tenho entendido que o desporto deve ter a responsabilidade de assumir, sem rodeios, que este é um problema que não se pode varrer para debaixo do tapete, procurando por todos os meios à sua disposição, auxiliar os muitos cidadãos estrangeiros vítimas de um engodo absolutamente deplorável.

Sei que existem muitas pessoas com poder suficiente para que este caso rapidamente passe a arquivo ou seja desvalorizado, mas quero acreditar que o relato das vítimas e dos seus familiares marcará, de uma vez por todas, a diferença no olhar que as organizações desportivas, do setor social e o Governo têm sobre o flagelo do tráfico, do auxílio à imigração e das burlas que proliferam no futebol português.

Reafirmo que os interesses pessoais e políticos não se podem sobrepor à verdade que custa a muitos e sobre a qual poucos dão a cara. As vítimas serão sempre a parte mais frágil de um ecossistema desportivo perito em encontrar novas formas de contornar regras ou simplesmente aproveitar as lacunas ou a falta de fiscalização do cumprimento da lei e regulamentação aplicáveis. Perante tudo isto, será que ainda se consegue ignorar a teia de interesses que se movimenta por detrás deste caso?

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (27 de junho de 2023)

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