O estado a que chegámos
Na sequência do caso da CD Trofense SAD, que não é único, na medida em que existem mais equipas que têm, neste momento, salários por regularizar em relação à época anterior, é caso para dizer que chegámos ao ponto em que o nosso sistema regulamentar, ao nível da verificação salarial, tinha tudo para ser eficaz, não fossem as janelas que o sistema teima em deixar abertas.
Existem duas circunstâncias para as quais tenho alertado até ao limite, por prejudicarem quer os jogadores quer os clubes cumpridores, que fazem sacrifícios e escolhas ao nível da sua gestão para cumprir pontualmente com as obrigações.
Falo, desde logo, dos acordos de deferimento do pagamento de salários. Depois de toda a luta para acabar com as declarações dos jogadores para efeitos de verificação do cumprimento, obrigando à certificação pelo Revisor Oficial de Contas (ROC), a possibilidade de acordos sem qualquer limite temporal imposto, mantiveram o ambiente de chantagem e pressão sobre os jogadores para assinatura dos mesmos, sempre que se aproxima um controlo salarial.
Não faz, igualmente, sentido que a época desportiva termine sem um controlo salarial que englobe os salários de maio e junho, arrastando essa verificação para depois do licenciamento para a época seguinte. Acresce, ainda, o abuso no recurso ao Plano Especial de Revitalização, que não é mais do que, em muitos casos, uma forma de protelar os pagamentos no tempo, com auxílio de alguns credores estratégicos ou testas de ferro, sem qualquer real intenção de restruturação económica por parte dos clubes.
Este não é um tema que, a meu ver, divida clubes e jogadores, mas antes devedores crónicos e cumpridores, merecendo, por isso, medidas urgentes, quer nas competições profissionais quer nas competições não profissionais. Lamenta-se, neste estado a que chegámos, que continuem as práticas de terceiro mundo.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (22 de agosto de 2023)