Jenni Hermoso e os valores em jogo
Ao longo da última semana, face à irredutibilidade de Luis Rubiales, a FIFPro, que nos representa a nível internacional, deixou clara a única posição admissível. O comportamento do presidente da Federação Espanhola, nos festejos pela maior conquista de sempre do futebol feminino do seu país, não é compatível com o cargo que ocupa.
Esta atitude ilustra o motivo pelo qual uma parte significativa das raparigas e mulheres não se sente segura, respeitada e valorizada nesta modalidade que queremos plural, progressista e capaz de quebrar barreiras sociais, entre as quais a desigualdade e discriminação de género.
É por esses valores que lutamos nos sindicatos, nas federações e na comunidade. O presidente da RFEF teve oportunidade de refletir e agir de outra forma, colocando os valores do desporto e de cidadania acima do cargo que ocupa. Ao contrário do que todos esperávamos, preferiu a segunda opção.
Quando em 2011, convidei a Carla Couto e a Edite Fernandes para criar o departamento de futebol feminino do Sindicato, estávamos a antecipar a importância crescente que as mulheres devem ter no desporto e exigir condições para o seu reconhecimento.
O Mundial 2023 confirmou que, mesmo com recursos inferiores, as mulheres souberam fazer o caminho para a excelência. A conduta de Luis Rubiales é uma entre muitas pedras que dificultam esse caminho. Hoje a nossa preocupação é com Jenni Hermoso, as suas companheiras e todas as mulheres que possam retirar de tudo isto que não vale a pena lutar pelo sonho de jogar ou trabalhar no futebol.
Artigo de opinião publicado em: Record online (28 de agosto de 2023)