A importância do debate
Neste final de semana estive na cidade do Porto, cada vez mais pujante e a respirar futebol. Na Invicta, além da oportunidade para rever amigos e muitos protagonistas do futebol português, realizei um exercício que parece em vias de extinção nos dias que correm: refletir e debater os temas essenciais. Na conferência sobre os desafios da integridade no desporto, organizada magistralmente pela sociedade de advogados RBMS e pela SIGA, foi possível cruzar as visões dos operadores do sistema judicial e desportivo, conhecer melhor o estado de implementação do mecanismo nacional anticorrupção e, acima de tudo, apelar a uma maior consciência cívica no difícil combate que se trava contra a corrupção e branqueamento de capitais, a manipulação de resultados, o doping, violência, assédio e discriminação.
Numa sessão com muitos pontos divergentes, destaco o sentimento comum de que a integridade no desporto tem de ser promovida por todos os envolvidos, direta e indiretamente, sendo que os principais financiadores da indústria do futebol, assim como os media, são aliados preciosos nesta causa comum. Quis, ainda, deixar um apelo à reflexão sobre a revisão da lei do mecenato, incentivando a entrada de novos parceiros no futebol. Para isso, devemos modernizar os incentivos a empresas que, através de financiamento direto ou apoiando causas sociais de relevo, ajudem os operadores do sistema desportivo a ter meios para fazer a diferença.
Seguiu-se o Thinking Football Summit organizado pela Liga. Neste evento de dimensão impressionante participei em debates sobre dois temas que me dizem muito: a proteção de menores e jovens atletas, e os desafios na transição de carreira para os jogadores profissionais. Na senda do caso 'B-Sports' é preciso reconhecer um problema sistémico relacionado com o facto de Portugal ser uma plataforma de acesso à europa, utilizada por recrutadores sem escrúpulos que subvertem as regras do sistema e condenam ao abandono e exploração centenas de pessoas. Como ficou bem patente, exige-se uma verdadeira articulação institucional para prevenir, sinalizar e responder eficazmente às necessidades das vítimas.
Finalmente, quanto à transição de carreira, é hoje um facto assente que os jogadores trazem uma enorme mais-valia quando apostam na sua qualificação e dispõem também de um conjunto de 'soft skills', que se forem devidamente potenciadas podem fazer a diferença na indústria do futebol e noutros setores de atividade. Como tenho dito, os jogadores são o futuro.