Mudança de mentalidades


Esta foi uma semana que merece ser destacada pelos aspetos positivos. Depois do brilharete da nossa Seleção Nacional a caminho do Euro'2024, com uma goleada histórica frente ao Luxemburgo, a nível interno as jogadoras voltaram a demonstrar que o futuro é brilhante, numa Supertaça exemplarmente jogada e refletida na adesão do público.

O futebol feminino está a crescer, justificando-se o atual quadro de apoios financeiros e todos os incentivos que têm sido anunciados, em particular pela Federação Portuguesa de Futebol que, como já referi, tem o mérito de assegurar esse apoio sustentado ao crescimento da modalidade.

Sendo este o caminho para a mudança de mentalidades, não se compreende que ainda não tenhamos conseguido consagrar condições laborais mínimas para as jogadoras, que assegurem a dignidade de todas as jovens que escolhem o futebol como a sua atividade. É esse o espírito da proposta de Acordo Coletivo de Trabalho apresentado pelo Sindicato dos Jogadores, que tem recebido resistência da parte de alguns clubes. Este é indubitavelmente o caminho para combater a precariedade, reduzir a incerteza e a conflituosidade que se acentua sempre que as regras estabelecidas não são claras, obrigando ao recurso aos tribunais para afirmação dos direitos.

Bem sei que a realidade dos clubes da Liga BPI é muito díspar, mas estou certo de que este é o caminho, já percorrido em muitos países, entre os quais os nossos vizinhos de Espanha, com resultados muitíssimo positivos, quer para a realidade individual das jogadoras quer para a estabilidade das competições, traduzida nos resultados desportivos obtidos.

A proposta que hoje se encontra do lado dos clubes e que mereceu a aprovação da FPF traduz salários mínimos e prémios, associados a condições de trabalho dignas, um regime equilibrado para a proteção na maternidade e doença, regras claras para a prevenção e resposta ao assédio e um espaço para a investigação relacionada com as necessidades da modalidade, bem como a educação das jogadoras, entre outras normas que podem ser implementadas por todos os clubes da Liga BPI.

Continuaremos a bater-nos por este documento estruturante, que não oferece nenhuma medida extraordinária ou impossível de atingir para aqueles que acreditam no projeto, na mudança cultural e comportamental a que assistimos, os que querem efetivamente o caminho da igualdade de direitos e oportunidades. Às nossas companheiras, que continuam a quebrar barreiras diariamente, deixo uma garantia: não desistiremos.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (17 de setembro de 2023)

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