O caso italiano e o vício nas apostas


A tradicional análise de países culturalmente mais afetos a apostas perdeu eficácia perante a tendência global em marcha. Diariamente, casas de apostas licenciadas e não licenciadas recolhem por diversos meios a atenção dos consumidores e as novas gerações, em particular, são fortemente permeáveis a este apelo de uma indústria com resultados financeiros astronómicos.

Em mais um dia triste para o futebol, Sandro Tonali, no âmbito de um caso que poderá envolver outros colegas, enfrentará dez meses de suspensão, depois de assumir a sua adição ao jogo. Este é um perigo difícil de enfrentar e, por isso mesmo, em Portugal a proibição é absoluta.

Os jogadores não podem apostar em futebol, enfrentando sanções disciplinares de suspensão e multa, mas cometem também o crime de aposta antidesportiva se apostarem em competição em que participem ou estejam envolvidos, punível com pena de prisão até um ano, ou pena de multa. Um sinal claro do legislador e das organizações desportivas para a pedagogia que deve ser feita, no sentido de afastar os nossos jovens desportistas do mundo das apostas.

Nesta perversidade das receitas que, apesar de tudo, o mercado das apostas garante ao futebol, com uma exposição claramente excessiva na minha opinião, saibamos continuar a fazer a pedagogia junto de diferentes escalões competitivos para evitar a experimentação e posteriormente o hábito, a que se segue normalmente a maior suscetibilidade de envolvimento em fenómenos de manipulação de resultados e outras condutas ilícitas.

Conheço a realidade dos colegas italianos e posso dizer com segurança que em Portugal temos sabido cooperar institucionalmente e assegurado um regime jurídico forte e uma preocupação efetiva com a sensibilização, que envolve o Sindicato dos Jogadores, a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portugal.

A mensagem "Deixa-te de Joguinhos", que introduzimos como mote do primeiro projeto anti match-fixing em Portugal, faz mais sentido do que nunca, pois embora não tenha conhecimento direto de uma situação semelhante à que ocorreu em Itália, do contacto diário com jogadores de diferentes escalões, tenho o feedback de que existem atletas a apostar.

Além de reforçar esta proibição absoluta para os jogadores, lembro-os do dever de reportar as situações de que tenham conhecimento, através dos canais seguros. Não posso deixar de passar uma mensagem para quem sofra ou comece a sentir sinais desta terrível doença aditiva. O recurso ao apoio psicológico é fundamental, para estancar uma realidade que infelizmente tem destruído muitas famílias.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (29 de outubro de 2023)

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