Pepe: uma trajetória de confiança
Esta semana quero assinalar o mais recente e extraordinário feito do Pepe, atleta do FC Porto, somando ao facto de ser o jogador de campo mais velho de sempre a competir na Liga dos Campeões o de ser o mais velho a marcar um golo. Também na Seleção Nacional, toda a experiência e vontade de competir que o caracterizam inspira, certamente, as novas gerações que vão integrando este espaço.
A evolução do futebol comporta uma melhoria significativa das condições de trabalho dos jogadores, que juntamente com o progresso científico e um planeamento cada vez mais eficaz das equipas ajudam a retardar os efeitos naturais do envelhecimento na sua performance. No entanto, são muitos os casos de esgotamento dessa capacidade para prolongar a carreira ao mais alto nível, seja pelo impacto das lesões ou perda de oportunidades, seja pelo efeito de um desgaste competitivo cada vez mais notório, face à sobrecarga dos calendários nacionais e internacionais a que são submetidos os futebolistas de elite.
Sem os devidos equilíbrios, a meu ver, mesmo com todos os apoios existentes à volta dos futebolistas nos dias de hoje, casos como o do Pepe serão cada vez mais raros. Até por isso, impressiona a forma como ele continua a demonstrar que, física e mentalmente, está pronto para responder às exigências deste patamar competitivo, fruto de enorme qualidade, profissionalismo e resiliência, mas também da gestão e estrutura de apoio proporcionada pelo seu clube.
A contrapor o exagero de competições e jogos sucessivos, quase sem os períodos de descanso e recuperação recomendados para os futebolistas de elite, temos a falta de espaço competitivo sentida em muitos países ou competições de níveis inferiores, no futebol masculino ou no futebol feminino em geral, algo que neste segundo caso tem vindo a ser melhorado.
Na ótica dos jogadores, importa sempre relembrar os reguladores desta indústria que vivemos num sistema de equilíbrios frágeis, em que a qualidade do jogo e proteção dos seus principais ativos são o garante da sua sustentabilidade. Interessaria, por isso, envolver mais os jogadores no processo de reflexão e decisão acerca daquilo que serão os quadros competitivos para o futuro.
Uma reivindicação que a FIFPro, em particular, tem vindo a fazer com o suporte do estado sobre a sobrecarga competitiva, que há várias épocas realiza, no qual se demonstra que é necessário atender a estes fatores para continuar a garantir o melhor das capacidades dos nossos jogadores.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (12 de novembro de 2023)