O lado evidente, mas inconveniente das apostas
Regressando a um tema que abordei recentemente a propósito das apostas realizadas por jogadores de futebol em Itália, por cá o Instituto de Apoio ao Jogador lançou alguns dados e uma interessante visão sobre o evidente aumento do número de participantes em apostas desportivas em Portugal, com um perfil essencialmente jovem, tudo quanto se tem vindo a reforçar através do infindável mundo que a oferta online acabou por trazer.
Sendo certo que as receitas provenientes das apostas desportivas têm sido um dos pilares do financiamento do desporto, não me parece que a publicidade quase indiscriminada e a tremenda exposição que este segmento tem nas mais diferentes plataformas de comunicação possa ser olhado como um mal menor ou necessário, acabando a resvalar em danos para a população em geral, sobretudo para as populações mais frágeis, mas também para os nossos atletas e para a integridade das competições.
Há uns anos, a propósito do setor das petrolíferas, discutia-se esta necessidade de reparação do seu mal necessário com programas de responsabilidade social, educação para a ecologia, proteção do meio ambiente e transição energética, o que fazendo um paralelismo com o mundo das apostas se traduz em canalização de mais investimento para programas de sensibilização, focados na prevenção dos comportamentos aditivos e na criação de estruturas de apoio à comunidade, com uma componente educativa e outra de assistência psicológica que falta, no nosso país, a vários níveis.
Esta dimensão do acesso quase imediato ao jogo e a publicitação desmedida do mercado das apostas precisa de ser revista e, portanto, não basta o financiamento de competições desportivas para que de alguma forma esteja cumprida a missão de quem se encontra licenciado para desenvolver o negócio.
Se existissem dúvidas sobre os perigos, duas das principais ligas de futebol mundial, a brasileira e a italiana, mostraram-se recentemente permeáveis a esquemas relacionados com a participação de jogadores em apostas desportivas, o que como já tive oportunidade de referir é, infelizmente, uma realidade retratada em muitas das conversas que vou tendo com diferentes agentes desportivos.
Felizmente, o apoio no tratamento de comportamentos aditivos tem sido uma das áreas a coberto do nosso programa de saúde mental, protegendo sempre o anonimato e a segurança de quem nos procura.
Deixo o apelo de sempre aos jogadores. Protejam-se a vocês e à vossa família e não hesitem em pedir ajuda. A porta do Sindicato estará sempre aberta.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (19 de novembro de 2023)