Que da noite das campeãs se faça luz


A Gala das Campeãs foi um momento especial, de celebração e homenagem a jogadoras que se destacaram desportivamente e contribuem para inspirar novas gerações. Parabéns à equipa do Record pela forma inspiradora como organizaram e envolveram os parceiros neste projeto. Os números não mentem, como bem elucidou Fernando Gomes na sua intervenção.

Fruto do investimento e apoio sustentado da Federação Portuguesa de Futebol ao longo dos anos, bem como do trabalho e visão estratégica dos clubes, temos conseguido galgar o número de atletas federadas, ano após ano. Ao mesmo tempo, criámos condições para reter o nosso talento, com a excelente notícia de que na Liga BPI o número de atletas com estatuto profissional já ultrapassou o de amadoras. Para isso contribuiu decisivamente a capacidade financeira das equipas que ocupam os lugares cimeiros da tabela.

Nesta fase de crescimento e abertura da sociedade portuguesa e do desporto ao papel que a mulher merece ter, vejo ainda resistências e dores de crescimento, desde logo atendendo aos clubes que não aderem ou não apostam efetivamente na modalidade e poderiam ocupar um lugar muito importante na construção desse objetivo que seria tão importante: uma liga totalmente profissional em que todas as jogadoras pudessem ter acesso a um contrato de trabalho desportivo.

Nos dias de hoje, alguns projetos que são sólidos financeiramente aproveitam as lacunas legais para promover vínculos precários, assentando a sua política numa vontade de crescer a todo o custo e acompanhar o pelotão da frente, sem preocupação com os direitos fundamentais das praticantes. Disse-o na Gala das Campeãs e reafirmo: da convivência com a realidade de muitos países e ligas femininas, em especial a nível europeu, uns que já partiam muito à frente de Portugal, outros que estavam francamente atrás, no que diz respeito às condições contratuais das jogadoras, temos a obrigação de fazer melhor.

Um acordo coletivo de trabalho assente em condições mínimas, um contrato tipo e conjunto de direitos que permita às nossas jovens jogadoras equacionar o futebol como a sua profissão, iniciando a sua vida profissional com dignidade e um sistema transparente, contribuirão para o progresso e redução da conflituosidade. Da parte do Sindicato dos Jogadores esta continuará a ser a nossa prioridade.

O futebol feminino evolui rapidamente e nalguns casos revolucionou a indústria, como aconteceu no acordo histórico entre a FIFPro e FIFA para distribuição de parte da receita do Mundial diretamente pelas jogadoras, ou pelo acordo com a UEFA para fixação de requisitos mínimos nas condições das atletas que representam as suas seleções nacionais. Não se exigem revoluções, mas uma aposta contínua e progressiva nas capacidades infindáveis da mulher desportista.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (3 de dezembro de 2023)

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