Mensagem de Natal e as figuras que nos inspiram


Chegámos ao período de Natal que é, por natureza, um momento de introspeção. Permitam-me neste espaço, caros leitores do Record, aproveitar para agradecer e desejar a todos vós um feliz e santo Natal. Extenso estes votos à família do futebol, com destaque para os jogadores e jogadoras que continuam a surpreender-me pela sua resiliência e capacidade de superação. Orgulho-me desta causa que tenho abraçado ao longo de grande parte da minha vida profissional. Nesta quadra, farei uso do pensamento de duas figuras marcantes para a Igreja, que nos convocam para um pensamento autocrítico e uma preocupação efetiva com o outro.

O Papa Francisco tem sido o grande mensageiro de uma abertura da Igreja a todos, no respeito pelas diferenças e na construção de pontes, mesmo perante os mais profundos dogmas ou divergências. Essa capacidade para dialogar na diferença é muito do que tem faltado aos nossos decisores políticos e a este país desportivo do 'nós contra eles'. Se enquanto católico o Papa Francisco me inspira pela inabalável crença na humanidade, já em Portugal é justíssimo homenagear Tolentino de Mendonça, vencedor do Prémio Pessoa 2023.

Recomendo vivamente a sua obra, na qual somos convocados a refletir sobre muitos dos fenómenos atuais que atormentam a humanidade e a forma de os enfrentar mantendo a dimensão espiritual que nos guia, mesmo perante as tomadas de decisão mais difíceis, ou simplesmente na aceitação da pluralidade de mensagens, convicções e culturas. É uma visão revigorante perante esta sociedade cada vez mais extremada e tendencialmente desumanizada. Nem sempre é possível a apatia para defender a paz e o unanimismo é, de todo o modo, indesejável.

Acredito que existem vários caminhos possíveis para um propósito comum. Muito do que vejo incutir nas novas gerações é uma demissão da reflexão crítica e um afastamento da dimensão espiritual. Resta-nos a esperança de que, ainda assim, continuemos a formar e apoiar pessoas com a capacidade de fazer a diferença pela positiva.

Num paralelismo com um dos temas fortes da semana para o futebol internacional, este confronto entre a Superliga e as instituições que até à decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia detinham o monopólio na organização do sistema, mostra um caminho feito de pouca reflexão, muitos argumentos de autoridade e pouco respeito pela representatividade dos atores essenciais na tomada de decisões.

Em defesa dos jogadores, acompanho o momento com natural preocupação, mas sem dramatismos. Não será o fim do mundo e prefiro reafirmar a confiança no modelo europeu de desporto, apelando à FIFA e UEFA para que vejam nesta situação uma oportunidade de ouro para ouvir os jogadores e encontrar maior equilíbrio nos calendários internacionais. 

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (24 de dezembro de 2023)

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