Fim de ano e próximos capítulos
Estamos a chegar ao final do ano de 2023, particularmente difícil pelos focos de conflituosidade no futebol e no mundo. Ainda assim, insisto numa visão positiva e esperançosa dos próximos capítulos, sendo certo que seremos confrontados a muito breve trecho com novas reformas que terão impacto nesta indústria, nos seus postos de trabalho e na forma como o jogo é experienciado pelos seus adeptos.
Para os jogadores e jogadoras em Portugal, a verdade é que a discrepância de realidades é tão evidente quanto o fosso de competitividade e capacidade financeira que existe entre as equipas. Muitos enfrentaram neste período de Natal as grandes dificuldades causadas pelo incumprimento salarial e isso não pode ser ignorado nem desvalorizado. Enquanto existir uma minoria a incumprir, o licenciamento dos clubes e escrutínio dos seus investidores será um tema central que deve continuar a envolver todas as entidades representativas, por nos impedir de progredir.
Continua a ser essencial a aposta na educação e nas carreiras duais dos jogadores, como forma de construção de um plano B que os capacite a fazer a transição a qualquer momento. A formação para investimento em empreendedorismo e inovação e a aposta efetiva na literacia financeira dos jogadores parecem-me, igualmente, áreas determinantes que continuaremos a explorar. Depois de se abrir ao conhecimento, o futebol pode também abrir-se a outros mercados de trabalho, aproveitando-se as competências únicas dos jogadores para impulsionar a sua reconversão profissional. A saúde e a proteção social, não apenas durante a carreira, mas na transição e, mais tarde, no acesso à reforma, são áreas igualmente prioritárias. Esperamos que possam ser áreas devidamente valorizadas no próximo ciclo legislativo.
Ainda no próximo ano teremos certamente desenvolvimentos dos casos que visam suspender a aplicação do novo regulamento de agentes FIFA. Mantenho-me expectante, sabendo que as situações promíscuas, conflitos de interesses e esquemas de dupla representação continuam a ser, na ótica dos jogadores, os flagelos a combater.
‘Last but not least’, no acesso à justiça desportiva continuo a achar que a exclusividade do Tribunal Arbitral do Desporto para dirimir conflitos laborais em sede de arbitragem voluntária foi um tremendo erro. A meu ver e com respeito por todos os que exercem funções naquele tribunal, o modo de funcionamento, e muito particularmente o regime de custas, tem inibido atletas de exercerem os seus direitos, o que é inaceitável.
Aproveitando aquelas que continuam a ser as indicações da FIFA, de incentivo à composição de órgãos paritários, céleres e acessíveis, é outro dos temas que pretendemos ver abordado, na esperança, já muito efémera, que um dia possamos recuperar as competências da CAP.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (31 de dezembro de 2023)