Realidade vs perplexidade
A Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) deu a conhecer o Relatório de Análise de Violência associada ao Desporto, referente à época 2022/2023.
Os números apresentados demonstram um crescimento dos incidentes e uma grande preponderância dos mesmos no futebol. Acompanho a preocupação com a proliferação dos atos que recuperam um certo hooliganismo e comprometem os espetáculos desportivos, apesar do esforço das autoridades para agir sobre os incidentes, tendo vindo a crescer o número de sanções executadas, entre as quais as interdições de acesso aos recintos.
Tratando-se de um fenómeno em crescendo na Europa, a violência contra agentes desportivos e entre adeptos, na bancada ou zonas envolventes, deve continuar a motivar o investimento nos meios de identificação e respostas em sede contraordenacional e criminal, juntamente com a educação para o fair play, ética, respeito pelo adversário e pelo jogo, que deve ser reforçada nos diferentes meios de comunicação, valorizando-se sempre os bons exemplos.
Os jogadores estarão sempre disponíveis para integrar programas que possam contribuir para reforçar estes valores e o sentimento de segurança que desejam para os seus locais de trabalho e prática desportiva, mas também para os seus familiares que os acompanham tantas vezes nos estádios do nosso país.
Da realidade passo à perplexidade com as recentes afirmações do presidente da Boavista SAD, a propósito da situação de incumprimento salarial. Além de profundamente infelizes por ser inaceitável que no primeiro escalão do futebol nacional continuemos a ter clubes que não conseguem honrar as mais basilares obrigações da sua gestão corrente, nunca poderiam ter sido proferidas por quem representa um clube que, infelizmente, tem um longo historial de incumprimento.
De nada adianta afirmar que não se é o único nesta situação. Era preciso um discurso diferente, assumir responsabilidades e ter a decência de não incendiar a situação, quando os jogadores foram nada mais do que exemplares na forma como procuraram gerir a mesma.
Apesar do que conseguimos alcançar com os mecanismos de licenciamento e controlo salarial, enquanto houver um só jogador que não seja pago no devido tempo, a situação é intolerável. Continuaremos a bater-nos pelo ajustamento dos períodos de controlo, maior exigência na verificação e enquadramento sancionatório, fim dos acordos de diferimento e maior escrutínio da gestão feita pelos clubes em PER ou situação económica difícil.
Termino com um abraço a um trio muito especial. Cristiano Ronaldo volta a ter uma época marcante na liderança dos goleadores mundiais e integrará os nomeados para o ‘World XI’ da FIFPro, juntamente com Rúben Dias e Bernardo Silva. Portugal está muito bem representado e espero vê-los no lote de escolhas final, anunciado na Gala ‘The Best’.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (7 de janeiro de 2024)